segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O momento é agora! (meu primeiro conto)


Véspera de feriado, como de costume a família de Cecília se reunia para viajar, conhecer novos lugares. Era uma família muito grande e apesar de alguns discordarem entre si, jamais perdiam o elo que os mantiam sempre unidos.
Os vizinhos ainda estavam acordando quando ouviram barulhos de buzina tocar, era do carro de Eduardo que já estava a apressar Cecília. Sua mãe, dona Laura e suas primas, Beatriz e Fabiana, já estavam no carro, só faltava Ciça. O roteiro da família agora era conhecer Cachoeira, interior da Bahia.
Ciça sentia-se muito feliz, estava grávida de três meses e ela aproveitou que iriam viajar, para contar a todos, e enquanto não chegasse o famoso jantar “big family Anfrei”, ela iria guardar esse segredinho, ela gostava de esperar sempre um momento certo.
Terminou de se arrumar e ficou admirando sua barriga no espelho, pensando: “será que é menino ou menina, se for menina eu vou chamar de Ester, se for menino eu deixo Edu decidir..., ele vai ficar tão feliz quando souber. Já não conseguia se conter de tanta felicidade, quando ouviu a buzina tocando desesperada lá fora, era ele, dando pressa, ela saiu rápido do quarto e fechou as portas, verificou se realmente estava tudo fechado e foi para o carro”.
Edu não entendia como ela conseguia se atrasar tanto, mesmo já estando pronta, porém valia a pena esperar qualquer tempo que fosse, ela sempre estava linda. Era verão a estação do ano que Eduardo mais gostava e aproveitou suas férias da concessionária onde trabalhava para viajar também. Ele gostava bastante dessas reuniões de família, às vezes sentia um pouco de inveja, queria que a sua família fosse assim também, mas seus pais eram filhos únicos e já haviam falecido. Talvez fosse por isso que ele era tão apegado à família de Ciça.
Ciça entrou no carro e beijou Edu.
- Desculpe a demora amor é que estava organizando alguns papéis da faculdade, alguns trabalhos para não esquecer.
Ela detestava mentir para ele, mas se contasse que estava imaginando como seria o filho deles, iria estragar a surpresa. Sorriu e pôs o cinto de segurança. Recostou-se no assento e começou a olhar o céu azul e sentir os raios de sol em sua pele. Começou a lembrar de como conheceu Edu, num acampamento da faculdade, ela reservada, lá no banco embaixo da árvore lendo, e ele mais descontraído, alegre, espontâneo, logo quando ela o viu se apaixonou, pensava: “nossa como ele é lindo!” E perdeu de vez a concentração do romance que estava lendo. Como era difícil se concentrar diante daquele rapaz alto, másculo, de feições suaves, sorriso perfeito e um carisma que contagiava todas as meninas.
Sentiu-se envergonhada, quando ele percebeu que ela o olhava, e de repente ele veio em sua direção, seu coração batia tão forte, ela podia jurar que ele queria sair. Ele ajoelhou-se diante dela e com uma florzinha do campo na mão disse:
- Posso saber bela flor, como te chamas?
Aquilo foi tudo pra ela, além de lindo era romântico e educado, era simplesmente o homem perfeito.
- Eu me chamo Cecília!
- Bem como eu esperava, lindo teu nome, como tu és!
Daí em diante foi tudo muito rápido, namoro, noivado, casamento e agora a gravidez. Sem perceber, ela estava a fitá-lo, admirando sua beleza e tentando entender como esse amor surgira tão depressa.Quando Edu interrompeu seus pensamentos:
- Amor o que foi?
-Nada! Estava lembrando do dia em que nós nos conhecemos!
- Eu também, às vezes fico me perguntando como foi que eu consegui casar com essa morena, de cabelos lisos, olhos de jabuticaba, que parece uma índia. Depois eu lembro como foi...
- Então me conta como foi!
- Foi simplesmente o meu charme irresistível!
E todos riram no carro. Edu sempre fora assim, cara de muita conversa e gargalhadas, sabia contar piadas muito bem e alegrar o ambiente. Sua sogra gostava da companhia dele, sentia como se ele fosse um filho, o que o ajudava a superar a morte terrível de seus pais num acidente de carro, quando ele tinha seis anos.
Eles estavam muito empolgamos com a viagem, Ciça ligou para sua tia Nalva, para avisar que já estavam a caminho. Beatriz e Fabiana lembravam das outras reuniões de família que iam quando eram crianças, de como era engraçado, e trazia consigo algumas fotos dessas reuniões, que foram passando de mão em mão até chegar a Cecília que foi mostrando devagar a Edu enquanto ele dirigia.
E como em um piscar de olhos, uma carreta desgovernada surgiu e invadiu a faixa que eles viajavam, parecia que o condutor estava desacordado, Ciça fechou os olhos temendo o que poderia acontecer e começou a rezar junto com a sua mãe e suas primas. Edu ficou nervoso, ao lado da pista só havia um canteiro inclinado, que dava acesso a uma BR. A decisão teve que ser imediata ou ele se arriscava a sair da pista, ou colidia ali mesmo e morreriam todos, ele claro preferiu tentar o canteiro. Girou o volante todo para o seu lado, pensando em Ciça, pois se não houvesse tempo de descer, pelo menos a batida seria do seu lado. Pediu a Deus que tomasse a direção daquele carro, lembrando das reportagens do acidente de seus pais na televisão, escapara do acidente porque sua mãe permitiu que ele ficasse na casa de um amiguinho de sala, para estudar, e agora ele se encontrava com o mesmo acidente que iria levá-lo aos seis anos.
Sentiu medo, medo de morrer, medo de perder a mulher da sua vida, medo do que podia acontecer. O carro saiu da pista e em frações de segundos a carreta passou, menos mal, mas começou a derrapar desgovernadamente, dona Laura, Beatriz e Fabiana estavam abraçadas e gritavam, desesperadas. Ciça temia por seu filhinho que ainda nem tivera a oportunidade de vir ao mundo, começou a se apoiar no teto do carro, para evitar que seu corpo fosse para o lado do volante, atrapalhando a direção.
Edu rapidamente enrolou o volante para o lado contrário tentando voltar para a pista. Não entendeu como, mas antes que o carro descesse para a outra via, ele conseguiu retomar a direção e trouxe de volta, agora, porém, com duas rodas apenas na jante.
Parou o carro, ainda muito perplexo, tentando organizar seus pensamentos. Ciça desceu sentiu suas pernas bambas, não sabia que estava tão abalada, sentou- se um pouco no chão e chorando começou a agradecer a Deus por está viva. Agradecer pelo seu bebe, e a pensar e se ele tivesse morrido, nunca iria saber da existência do seu filho, minha mãe, todo mundo.
Dona Laura, Beatriz e Fabiana desceram em seguida e sentaram-se também, ainda chorando, todavia agora, de felicidade. Ciça levantou e foi até Edu:
- Amor, como você está? O pior já passou!
-Graças a Deus!
- Vem!
Edu desceu do carro e abraçou Ciça como se aquele fosse ela fosse um presente que ele ganhara. Ele se afastou por um instante o começou a fitá-la, olhava o amor da sua vida, quando ela revelou:
- Amor, eu estou grávida!
-O que? Desde quando, meu Deus, eu não acredito! Dois presentes em um só dia!
- Eu estava esperando o momento certo para te falar, e vi que não há motivo para esperar, porque o porvir ninguém sabe se ocorrerá!
-Sim amor! O momento é agora! Eu sempre vou te amar!
- Eu também te amo!
E começaram a se beijar intensamente.
Dona Laura, Beatriz e Fabiana, que estavam a ouvir a conversa, levantaram e começaram a bater palmas, indo ao encontro do casal cumprimentá-los com alegria.


Autor: Andréa Freitas

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