terça-feira, 30 de março de 2010

Um dia daqueles




Um dia daqueles, é o dia em que você sente que acordou com uma cara não muito boa...


É o dia em que você se sente a pessoa mais feia desse mundo...

Sua vontade é de enfiar a cara no primeiro buraco que encontrar pela frente...
Daria qualquer coisa pra fugir, e sumir pra sempre, seja do jeito que for ...
 É o conhecido dia da depressão...
Você não quer saber de nada nem de ninguem...
 uma tremenda dor de cabeça te incomoda e ninguém se toca disso...
Se sente até um pouco sem personalidade...

 Parece que o mundo quer te engolir...
 Ou coisa pior...
 Pensa estar até com algumas ruguinhas...
 Daí vem as dúvidas:
Será que tem algo errado acontecendo?
Será que fiz algo errado e acabei entrando numa fria??
 Você começa a ficar com medo...
 Assustado...
Confuso...
 
Desesprado...
 Pensa estar enlouquecendo...
 Mais pergutas começam a aparecer:

Será que o problema está no meu serviço?
 Ou em casa?
 Felizmente, foi desenvolvido um método conhecido por:
ANTI-UM DIA DAQUELES
 É mais ou menos assim:
 Dê uma risada bem gostosa...
 Se não tem motivos, ria de você mesmo...
 Relaxe bastante...
Ou então dê mais uma risadinha...
 Beba sua bebida preferida...
 Coma o que mais gosta, o quanto quiser...
 Saboreie um delicioso doce...
 Entre cada passo, dê uma risadinha pra não perder o jeito...
 Dê mais uma relaxadinha...
 E entre esse meio tempo, tente corrigir seus erros...
 Tome um delicioso banho...
Se precisar, que seja demorado...
E pra fechar com chave de ouro...
Vista sua melhor roupa e saia pra dar um rolé...
 Isso é comprovadamente eficaz, porém, tem um metodo com 100% de eficácia, é assim:
 Tem uma pessoa, bem proxima de você, que se chama AMIGO...
 É a pessoa que você pode confiar em contar suas mágoas e angústias...
 Aquele que está com você sempre, não importa a situação nem lugar...
Já pensou nele né ??
Pois bem, convide esse amigo pra dar uma volta...


No meio do caminho, desabafe com ele...
Sinta o aconchego desse amigo...
Eu tenho certeza, que esse amigo te fará uma linda surpresa...
Sem dúvida, irá tirar suas rugas...
E se tornará seu Super Herói...
Pode ser seu amigo de Trabalho...
Ou seu amigo que você encontra todos os fins de semana no clube...
Ou nas brincadeiras de distração...
Ou até mesmo aquele amigo que enfrenta todos os dias a msma lotação e se senta ao seu lado
Tem também aquele amigo que você não vê todos os dias, você pode mandar uma mensagem para ele agora, aproveite!!!!!!!!

Seja Feliz..!


domingo, 28 de março de 2010

O gigolô das palavras



Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente oinstrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa ("Culpa da revisão! Culpa da revisão !"). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer "escrever claro" não é certo mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir, mover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática.) A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, comoa Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.Claro que eu não disse isso tudo para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas - isso eu disse - vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só usoas que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gostopassageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimoescrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa ! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda.

Autor:Luís Fernando Veríssimo




terça-feira, 23 de março de 2010

Os jornais


Meu amigo lança fora, alegremente, o jornal que está lendo e diz:
- Chega! Houve um desastre de trem na França, um acidente de mina na Inglaterra, um surto de peste na Índia. Você acredita nisso que os jornais dizem? Será o mundo assim, uma bola confusa, onde acontecem unicamente desastres e desagraças? Não! Os jornais é que falsificam a imagem do mundo. Veja por exemplo aqui: em um subúrbio, um sapateiro matou a mulher que o traía. Eu não afirmo que isso seja mentira. Mas acontece que o jornal escolhe os fatos que noticia. O jornal quer fatos que sejam notícias, que tenha conteúdo jornalístico. Vejamos a história desse crime "Durante os três primeiros anos o casal viveu imensamente feliz..." Você sabia disso? O jornal nunca publica uma nota assim:
"Anteotem, cerca de 21 horas, na rua Arlinda, no Méier, o sapateiro Augusto Ramos, de 28 anos, casado com a senhora Deolinda Brito Ramos, 23 anos de idade, aproveitou-se de um momento em que sua consorte erguia os braços para segurar uma lâmpada para abraçá-la alegremente, dando-lhe beijos na garganta e na face, culminando em um beijo na orelha esquerda. Em vista disso, a senhora em questão voltou-se para o seu marido, beijando-o longamente na boca e murmurando as seguintes palavras: "Meu amor", ao que ele retorquiu: "Deolinda".
Na manhã seguinte Augusto Ramos foi visto saindo de sua residência às 7:45 da manhã, isto é, dez minutos mais tarde do que o habitual, pois se demorou, a pedido de sua esposa, para consertar a gaiola de um canário-da-terra de propriedade do casal".
A impressão que a gente tem, lendo os jornais - continuou meu amigo - é que "lar" é um local destinado principalmente, à pratica de "uxoricídio". E dos bares, nem se fala. Imagine isto:
"Ontem, certa de 10 horas da noite, o indivíduo Ananias Fonseca, de 28 anos, pedreiro, residente à rua Chiquinha, sem número, no Encantado, entrou no bar "Flor Mineira", à rua Cruzeiro, 524, em companhia de seu colega Pedro Amância de Araújo, residente no mesmo endereço. Ambos entregaram-se a fartas libações alcoólicas e já se dispunham a deixar o botequim quando apareceu Joca de tal, de residência ignorada, antigo conhecido dos dois pedreiros, e que também estava visivelmente alcoolizado. Dirigindo-se aos dois amigos, Joca manifestou desejo de sentar-se à sua mesa, no que foi atendido. Passou então a pedir rodadas de conhaque, sendo servido pelo empregado do botequim, Joaquim Nunes. Depois de várias rodadas, Joca declarou que pagaria toda a despesa. Ananias e Pedro protestaram, alegando que eles já estavam na mesa antes. Joca, entretanto insistiu, seguindo-se uma disputa entre os três homens, que terminou com a intervenção do referido empregado, que aceitou a nota que Joca lhe estendia. No momento em que trouxe o troco, o garçom recebeu uma boa gorjeta, pelo que ficou contentíssimo, o mesmo acontecendo aos três amigos que se retiraram do bar alegremente, cantarolando sambas. Reina a maior paz no subúrbio Encantado, e a noite bastante fresca, tendo dona Maria, sogra do comerciante Adalberto Ferreira, residente à rua Benedito, 14, senhora que sempre foi muito friorenta, chegando a puxar o cobertor, tendo depois sonhado que seu netinho lhe oferecia um pedaço de goiabada".
E meu amigo:
Se um repórter redigir essas duas notas e levá-las a um secretário de redação, será chamado de louco. Porque os jornais noticiaram tudo, tudo, menos, uma coisa tão banal de que ninguém se lembra: a
 vida...


Autor: Rubem Braga

As eternas coincidências


Quando a gente vai botar um chiclete debaixo da cadeira, encontra outro.Quando esperamos que uma pessoa acabe de usar um telefone do café ou orelhão, um terceiro entra na fila: o número que ligamos sempre está ocupado.Quando a gente consegue a ligação de um telefone, ocupado antes durante muito tempo, a pessoa procurada sai naquele instante.Quando a gente hesita entre dois táxis, toma o que vai parar na bomba para botar gasolina.Quando esperamos um sinal verde fresquinho, verificamos que daria tempo para atravessar quatro vezes; quando não esperamos, temos de cruzar a rua correndo.Quando a gente, já de raiva da difícil caça, empurra um móvel para matar uma barata, cai e se estilhaça um objeto de louça.Quando a gente vai ceder um lugar no divã para a moça mais bonita da festa, bate dura e grotescamente com a cabeça na bandeira da janela.É sempre o casal mais antipático ou sem graça, durante a reunião, que simpatiza conosco.Quando a gente se coça na rua, sempre nos cumprimenta a pessoa à qual gostaríamos de causar boa impressão.Quando esperamos o telefonema, entre quatro e seis da tarde, verificamos às seis e meia que o nosso aparelho enguiçou.

Autor: Paulo Mendes Campos

quinta-feira, 18 de março de 2010

A Mulher do Vizinho



Na rua onde mora (ou morava) um conhecido e antipático General do nosso Exército, morava (ou mora) também um sueco cujos filhos passavam o dia jogando futebol com bola de meia.
Ora, às vezes acontecia cair a bola no carro do General e um dia o General acabou perdendo a paciência, pediu ao delegado do bairro para dar um jeito nos filhos do vizinho.
O delegado resolveu passar uma chamada no homem e intimou-o a comparecer à delegacia.
O sueco era tímido, meio descuidado no vestir e pelo aspecto não parecia ser um importante industrial, dono de grande fábrica de papel (ou coisa parecida), que realmente ele o era. Obedecendo à intimação recebida, compareceu em companhia da mulher à delegacia e ouviu calado tudo o que o delegado tinha a lhe dizer. O delegado tinha a lhe dizer o seguinte:
- O senhor pensa que só porque o deixaram morar neste país pode logo ir fazendo o que quer? Nunca ouviu falar num troço chamado autoridades constituídas? Não sabe que tem de conhecer as leis do país? Não sabe que existe uma coisa chamada Exército Brasileiro, que o senhor tem de respeitar? Que negócio é esse? Então é ir chegando assim sem mais nem menos e fazendo o que bem entende, como se isso aqui fosse a casa da sogra?
Eu ensino o senhor a cumprir a lei, ali no duro: “dura lex”! Seus filhos são uns moleques e outra vez que eu souber que andaram incomodando o General, vai tudo em cana. Morou? Sei como tratar gringos feito o senhor.
Tudo isso com voz pausada, reclinado para trás, sob o olhar de aprovação do escrivão a um canto. O vizinho do General pediu, com delicadeza, licença para se retirar. Foi então que a mulher do vizinho do General interveio:
- Era tudo que o senhor tinha a dizer a meu marido?
O delegado apenas olhou-a, espantado com o atrevimento.
- Pois então fique sabendo que eu também sei tratar tipos como o senhor. Meu marido não é gringo nem meus filhos são moleques. Se por acaso importunaram o General, ele que viesse falar comigo, pois o senhor também está nos importunando. E fique sabendo que sou brasileira, sou prima de um Major do Exército, sobrinha de um Coronel, e filha de um General! Morou?
Estarrecido, o delegado só teve força para engolir em seco e balbuciar humildemente:
- Da ativa, minha senhora?
E, ante a confirmação, voltou-se para o escrivão, erguendo os braços, desalentado:
         - Da ativa, Motinha. Sai dessa.

Autor: Fernando Sabino